sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Liberto da Maldição de Sísifo

Um esclarecimento:

Na mitologia grega Sísifo foi um homem que ousou desagradar aos deuses. Por causa disso, foi condenado a rolar uma enorme pedra até o cume de um monte. No entanto, sempre que ele estava perto do cume uma força irresistível empurrava a pedra para baixo e o pobre Sísifo tinha de recomeçar o trabalho por toda a eternidade. Sempre tentando, mas nunca conseguindo.

Muitas vezes nós nos sentimos assim, buscando uma santificação que nunca chega e quando pensamos estar perto, tudo desmorona e temos que recomeçar. A carta que você vai ler fala exatamente desta luta que eu e você travamos, e nos desperta para entender que o nosso Deus não é o mesmo deus de Sísifo, pois Cristo é quem paga o preço por nós e nos alívia dos nossos fardos.

Boa leitura!
 
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Carta:

Denilson,

Travei nas últimas horas algumas batalhas interiores, alinhando-me por minha própria vontade, do lado errado. Perdi, como seria de esperar. Medito calada e só, no sofrimento de me crucificar com Cristo e pecar outra vez. De ter escutado o chamado e ignorá-lo outra vez. De ter passado pela estrada feia e empoeirada e sobre meus velhos passos tornar andar. Tentando obviamente sem possibilidade de êxito, como os tantos que me antecederam em todas as épocas e outros tantos que estão agora, nesse mesmo momento em que escrevo, entender o gosto humano pelo pecado.

Escolhi de novo o lado errado, por que quis. Por que tenho natureza rebelde? Por que é a marca de minha humanidade? Por que escolhi atender ao diabo sabendo que ele me acusaria, riria do meu fracasso, eu ainda assim sabendo do que viria, escolhi mal e sei que mereço a acusação. Não posso fingir desconhecimento. Há, porém, alguma esperança que eu tenha sido novamente enganada ou apenas sou eu que quero a má parceria escolhida?

Sem querer justificar-me, porque isso de modo algum não farei, sei que o desgosto do rompimento, desesperança na reconciliação, sentimento de perda, silencio e desilusão me fragilizam, provocam ânsias, ansiedades, tormenta interior, e igual a um drogado, quero o prazer imediato de alguma auto-ilusão perigosa.
Temo tirar todos os pontos de interrogação de minhas frases e ter que assumir simplesmente um ponto, um ponto que afirma sem deixar nem sequer a esperança ou a ilusão da dúvida de que fui enganada realmente ou quis me enganar por mero gosto. Abandonei o lago sereno, abandonei as mãos carinhosas e seguras para ir sozinha em busca de coisas que sequer compreendo. Estou esta manhã igual como Adão e Eva, escondidos atrás da árvore, mas sem a ingênua ilusão de que possa esconder-me.

Sou uma criatura que vivencia as coisas muito cruamente, sei que tudo, do jeito que é, está sendo visto por Aquele que me sonda o coração, o recôndito da alma, o mundo sombrio, a vida sem lei.

Estou como a criança que se meteu de baixo da cama depois de quebrar novamente um objeto precioso de seu pai, ansiosa para ser novamente chamada a sua presença, desejosa de receber o carinho ainda que imerecido, temerosa do castigo por que é reincidente, e pior, sabendo-se teimosa sabe que não tem onde ir.

Estes momentos que antecedem as sonhadas reconciliações são sempre os mais dolorosos. Não quero abreviá-los, por que tenha algum prazer de me auto-martirizar ou que isso possa consertar algo. Acho essa atitude totalmente imbecil, mas necessito de consciência.

Infelizmente nutro uma rigorosa desconfiança de mim mesma, pautada num histórico de fracassos e como fracassada reincidente me sinto sempre insegura de quem sou. Será que uma cleptomaníaca pode algum dia confiar que não mais roubará? Será que o viciado em cocaína olha com indiferença o rastilho do pó que esta diante de seus olhos?

Não gosto do material de que sou feita, longe muito longe estou da mente de Cristo. Mas necessito de ajuda. Desse extremo estado de desolação te digo que necessito de oração.

A  única consoladora diferença do meu estado atual para o anterior, de antes de aceitar a Jesus eu não tinha a menor consciência do pecado. Agora já sei que pecado existe e que não é agradável a Jesus. Ainda que  me sinta aquém da mais mínima expectativa, estou outra vez tentando a reconciliação.

Por favor, ore por mim.

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Resposta:

Querida irmã,

Choro junto contigo a sua dor e me identifico com sua fraqueza, pois fracos todos somos. Somos enganados e nos enganamos, nos justificamos e nos condenamos. Vivemos em uma louca montanha russa em que a vitória de hoje pode anteceder o abismo de amanhã. O que nos resta? Para onde vamos nós? Como andar em constância e não errar, ou pelo menos não errar tanto, ou não errar sempre do mesmo jeito?

Quantas vezes clamamos por pelo menos termos pecados novos para nos arrepender e não ficarmos na mesmice dos velhos pecados que reincidimos vez após vez. Como Sísifo, temos a sensação de rolar uma pedra ladeira acima para vê-la rolar ladeira abaixo, apesar de todos nossos esforços, e somos obrigados a recomeçar tudo de novo em uma luta que parece não ter fim.

O Senhor não nos ama por causa de nossa capacidade de seguir os mandamentos, nem mesmo por nossa fidelidade. Ele nos ama por nos conhecer e ter nos tomado como filhos. Sabemos que ele nos ama porque um dia Ele próprio se fez carne e se entregou e se martirizou por mim e por você.

Graças a Jesus, podemos nos achegar a Ele, timidamente a princípio, nos sentindo sujos, repulsivos, mal-cheirosos. Mas quando ainda estamos no caminho, meditando sobre nossas vilanias e pecados, nos julgando indignos até de ser considerados reles serviçais. Ele sai ao nosso encontro nos abraça em nossa imundice, nos acolhe com nossas torpezas, e nos dá novas vestes, vestes limpas, vestes nupciais.  Não vestes lavadas pela nossa justiça própria, mas lavadas pelo sangue que Ele derramou por amor a nós.

Quem nos purifica é Ele e não nós. Quem nos sustenta é Ele. Quem nos justifica é Ele. Quem nos santifica é Ele. E esta é a única coisa que consola meu coração, nesta luta que é a vida, e me liberta, pois não há obrigação em ter que ser ou fazer nada, mas o amor que me conduz e me aceita mesmo em minhas fraquezas.

Fique em paz, o Espírito Santo está trabalhando em sua vida e é Ele quem te trouxe até aqui, recuos muitas vezes são necessários e fazem parte do trabalhar de Deus em nossas vidas, para não nos deixar esquecer nossa humanidade, que somos pó e cinza e que somos dependentes Dele para continuar a caminhar.

Estou orando por você, conte sempre comigo.

Um abraço,

Denilson Torres
Ministério Fruto do Espírito
www.frutodoespirito.com.br

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